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Debate entre Sebastião Melo e Maria do Rosário em Porto Alegre é marcado por casos de corrupção, enchente e privatização

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Os dois candidatos à prefeitura de Porto Alegre que estão no segundo turno das eleições, Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT), participaram nesta segunda-feira (14) do primeiro debate televisionado do segundo turno. Promovido pelo Grupo Band RS, o encontro teve duração de cerca de uma hora e meia e foi marcado pela apresentação de alguns projetos, permeado por troca de farpas relacionadas a suspeitas de corrupção no governo do atual prefeito, responsabilidades frente à enchente, privatização e diferentes visões de desenvolvimento.

O embate iniciou com temas definidos pela produção do programa, sendo eles: Saúde, Educação, Mobilidade Urbana e Segurança, respectivamente. Na segunda parte, os concorrentes responderam a questionamentos formulados pelos jornalistas do Grupo Band. Foram perguntas direcionadas a cada um deles, baseadas em seus planos de governo e assuntos comentados em outros encontros. Já o terceiro, e último bloco, foi de tema livre no qual os candidatos fizeram perguntas entre si e utilizaram de suas estratégias de debates. No final, cada um deles ainda contou com um tempo para dar as considerações finais.

Com menos participantes, o programa seguiu de forma mais dinâmica e permeado de ataques e contra-ataques. Durante o confronto, Rosário apostou em ligar a imagem de Melo à de Bolsonaro, enquanto Melo tentou ligar o PT a corrupção. A deficiência na prevenção de enchentes voltou a ser tema central do embate, quando Melo disse que a responsabilidade do sistema de proteção contra cheias é do governo federal.

“É sempre problema dos outros. É culpa do PT. O PT estava no poder em 2004. Depois apenas o Melo esteve no poder e ele fala que é culpa do PT. O senhor trouxe os bolsonaros para ficarem atacando o PT”, ressaltou Rosário.

Os postulantes ao Executivo porto-alegrense também se mostraram preocupados com as abstenções no primeiro turno e apelaram para que os eleitores não deixem de votar no segundo turno. O número de pessoas que não foram às urnas ou que votaram em branco ou nulo chegou a 401.935, bem mais que os 345.420 votos obtidos pelo candidato Melo.

Mais uma vez, Rosário apostou nos temas das privatizações, da falta de acesso à saúde, educação e de programas de moradia popular. “Privatizou a Carris e diminuiu a qualidade no transporte coletivo. Cidade desumana, que não cuida da gestante, da mulher, da criança. Uma mulher grávida precisou de atendimento no hospital, não conseguiu, precisou ir para outro, mas não tinha dinheiro para passagem”, ressaltou.

O candidato à reeleição destacou que a tarifa do transporte público ficou três anos congelada. Afirmou ainda que o Executivo municipal entregou 400 ônibus novos e 700 parada. “Nós vamos criar uma faixa exclusiva para os motociclistas. De início vai ser do triângulo até Cachoeirinha. Temos conversado bastante com os taxistas, vamos criar espaços de convivência para Uber e fechar o plano diretor da ciclovia.”

Ainda de acordo com Melo, a atual gestão oferta passagem para quem precisa, e citou como exemplo cartão TRI Vou à Escola. “Eu reconheço que ainda há muito o que fazer. Nós achamos que tem certos setores que não precisam estar na administração do poder público. Nós privatizamos a Carris e melhoramos o serviço”, afirmou.

Ao se dirigir a Maria do Rosário, disse que a candidata começou muito cedo os ataques, ao que Rosário respondeu: “Não se trata de ataques. Quando a gente diz a verdade, o candidato fala que é ataque. Ele vive numa cidade de fantasia”.

Ao falar sobre o tema da saúde, Rosário lembrou das suspeitas de corrupção no Hospital da Restinga e Extremo Sul, que é de responsabilidade do governo municipal. O atual prefeito negou que o caso está sob investigação pela Polícia Federal e atacou o partido da adversária. Contudo, o Ministério Público Federal (MPF) já confirmou que um inquérito foi instaurado para apurar as denúncias.

“O PT que entende de corrupção. Tenho muito orgulho de dizer que aumentamos a atenção à saúde da família. Nós estamos fazendo a nossa parte. Vamos diminuir as filas nos hospitais”, afirmou Melo.

Em contrapartida, Rosário pontuou que a atual gestão conseguiu criar um programa que aumentou dez vezes as filas nos hospitais. “Não sou eu que tô falando de corrupção. É a polícia. Não quero mais a cidade como um caso de polícia. Esse governo Bolsonaro é todo envolvido em corrupção. O atendimento aos autistas vai melhorar nessa cidade”, garantiu.

Por sua vez, Melo afirmou que sem mudança na tabela do SUS não tem como atender a demanda de forma adequada. “O sistema está desarranjado. Nós, para resolver a saúde, precisamos sentar com o governo regional, municipal para tratar a tabela do SUS” ,sugeriu.

Corrupção na educação

Melo disse que seu governo “fez um feito espetacular” de atender mais de 7 mil crianças, contratar mil professores concursados e convocar mais docentes provisórios. “Nós também estamos elevando o piso dos educadores que são daquelas conveniadas. Tem avanço. Tem muitos desafios, mas nós avançamos”, afirmou.

Professora, Rosário disse que “a educação do jeito que está não dá” ao lembrar que a cidade ficou com o segundo pior lugar do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “As crianças não estão aprendendo, pois não há apoio pedagógico. Não há turno integral. Falta vagas em Porto Alegre. Eu me comprometo a resolver o problema das vagas que o senhor não resolveu. A minha vida é proteger a infância brasileira e a de Porto Alegre. Nós vamos trabalhar os convênios e valorizar.”

Rosário lembrou também dos casos de corrupção da atual gestão envolvendo a Secretaria de Educação. “A secretária de educação foi presa por comprar apartamento com dinheiro de corrupção, tem gente andando de Ferrari com dinheiro de corrupção. E as crianças tão com merenda ruim. Eu não vou aceitar isso.”

Segurança pública

Rosário disse que a campanha do seu adversário está cheia de fake news contra ela, mas que ela vai fazer um plano municipal de segurança pública, além de integrar a Brigada Militar, a Polícia Civil e a Guarda Municipal. “Coisa que não foi feita pelo meu adversário. Quatro anos e nenhum plano de segurança municipal.”

Melo afirmou que a atual gestão fez concurso após 12 anos, que foram colocados 60 novos guardas e que as guardas foram equipadas. “Nós sabemos que a Brigada deveria ter o dobro de efetivo. A segurança pública, o policiamento ostensivo é responsabilidade da Brigada”, disse.

Transporte público

No segundo bloco, Maria do Rosário e Sebastião Melo debateram sobre transporte público, habitação, planejamento urbano e drenagem urbana.

“Porto Alegre sempre foi vanguarda no transporte coletivo. Agora não é mais. Nós tínhamos a Carris que era a melhor do Brasil. Assim como o SUS existe para a saúde, a tarifa zero é uma proposta para ser construída no futuro que garanta o direito ao transporte como universal. Não precisar pagar passagem tinha que ser um objetivo”, afirmou Rosário. Ela ressaltou que há um projeto que tramita em Brasília que precisa ser aprovado para que isso se torne realidade.

Melo lembrou do congelamento da tarifa de ônibus e defendeu a privatização da Carris, mas duvidou da proposta de tarifa zero. “Se não tivesse botando dinheiro público, a passagem estava R$7,00. Só foi possível a passagem a R$4,80 pois nós vendemos a Carris, reduzimos sete isenções e gradativamente oferecemos cursos para os cobradores, para que pudessem fazer uma transposição nesses quatro anos que a lei estabeleceu. Eu não sou contra a passagem gratuita desde que diga de onde vem o dinheiro.”

Habitação

Melo disse que em seu governo vários programas de habitação foram ou estão sendo executados. Citou 3,5 mil regularizações fundiárias, bônus moradia para 400 famílias cin a compra assistida e 3,9 mil famílias no chamado estadia solidária. “Nós estamos bancando mil reais para cada família, para que possam chegar em uma moradia segura. Habitação popular não é só fazer habitação nova. Tem um conjunto de ações públicas que estamos fazendo”, afirmou.

Para Rosário, é preciso ser parceiros do governo federal. “Eu vou buscar recursos do Minha Casa, Minha Vida e trabalhar juntos. Quando um município é parceiro e se coloca como gestor da construção das moradias, quando organiza famílias nas regiões ocupadas, organiza cadastros, nós temos condições muito melhores de trazer recursos para a cidade. Outros municípios constróem. Porto Alegre em quatro anos não construiu uma casa. Porto Alegre tem cerca de 300 áreas de ocupações e loteamento irregulares. Nós precisamos regularizar essas áreas. Eu vou entregar para cada família o documento de propriedade. Organizar as ruas e fazer a necessária urbanizaçã”, afirmou.

Em resposta, como em debates anteriores, Melo disse ser contra invasões. “Diferente de você”, acusou. “Essas ocupações estão há 10, 15 anos em terras públicas. E as que não estão nós estamos negociando com cooperativas. Entregamos 600 apartamentos. Nós regularizamos 3.500 famílias e isentamos 13 mil famílias do IPTU”, destacou o atual prefeito.

Planejamento urbano

Para Rosário é preciso revisar o plano diretor da cidade, “desde o princípio”. Afirmou que pretende recuperar a Secretaria de Planejamento do município. “O Melo destruiu o parque Harmonia, cortou 400 árvores do parque e destruiu as vias. Um plano diretor urbano ambiental deve ser novamente discutido, trazer a população democraticamente. Hoje, a revisão atual, só serve às grandes empreiteiras. A cidade não pode ter dono. O dono da cidade é o cidadão, a cidadã”, disse.

Já Melo defendeu novas construções para moradia em bairros já consolidados, para atender mais pessoas sem sobrecarregar os serviços públicos. Afirmou ser desenvolvimentista. “Se dependesse da Maria do Rosário e seu time, o parque Harmonia não existiria, a Orla 1 e 3, o Pontal, pois é a turma do atraso. A cidade não quer marcha ré, a cidade quer andar pra frente. Acho que o Brasil errou feio ao estender a cidade para onde não havia cidade. Se for reeleito, vou trabalhar muito para adensar a cidade onde tenha equipamento público”, prometeu.

Drenagem urbana

Sobre drenagem urbana, distribuição de água e tratamento de esgotos, Melo pontuou que seu governo atualizou o plano. “Se for reeleito vou mandar o projeto para a Câmara e botar água na torneira de quem não tem e tratar esgoto”,prometeu. Também afirmou que pretende parcerizar o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE). “O dinheiro advindo da parcerização iria para a drenagem. O privado não assume a drenagem. A drenagem tem que ficar com o DMAE”, disse.

Já Rosário frisou que pretende recuperar estrutura própria para drenagem e cuidado com o sistema de proteção contra cheias que foi comprometido por falta de manutenção. Também prometeu recriar o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP).

“É responsabilidade da prefeitura verificar o funcionamento das casas de bomba, da drenagem, dos bueiros, das bocas de lobo. Esse trabalho cotidiano eu farei todo o tempo com o DEP. Não preciso criar novos cargos, cargos de confiança. É só organizar. O DAME vai garantir a potabilidade da água até onde não tem”, disse.

Em réplica, Melo afirmou que não vai recriar o DEP ou privatizar o DMAE. “Drenagem urbana, limpeza de arroio, macro e micro drenagem estão conosco. Para fazer isso é preciso dinheiro e agilidade. E é por isso que vou priorizar manter o DMAE público para outras funções.”

Ataques e menções a Lula e Bolsonaro

No terceiro bloco os candidatos em diversas ocasiões se atacaram mencionando Lula e Bolsonaro.

Rosário perguntou a Melo que nota ele daria para seu trabalho na Educação, e que ela,como professora, daria nota zero. Ela também recordou do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) e da imobilidade de Melo na defesa do órgão quando esteve ameaçado de privatização.

Melo respondeu que quem tem que dar nota para o prefeito é a população e agradeceu aos 49,72% da população que votou nele. Além disso, afirmou ser um governo de diálogo. “Eu governei dois anos com o presidente Bolsonaro e tive um excelente diálogo e a mesma coisa eu tenho com o presidente Lula, porque é o mesmo povo que escolheu o presidente que escolheu o prefeito”.

“Já que era tão amigo do Bolsonaro, e é, porque o apoia, agora unha e carne com o Bolsonaro, por que não falou com o Bolsonaro para manter a Ceitec em Porto Alegre?” rebateu Rosário. A candidata acrescentou que o atual prefeito apoiou o “presidente do genocídio, da cloroquina e não aproveitou a amizade para defender a nossa cidade”.

As enchentes também voltaram ao debate no bloco. “Como é possível não ter cuidado com as casas de bomba em nenhuma região da cidade, nem no Centro Histórico? Nós vamos fazer o que é necessário para o centro, limpeza dos bueiros, porque tudo parte de não deixar mais alagar e oferecer segurança”, afirmou Rosário.

Melo, por sua vez, disse que sua atual gestão está fazendo as obras. “Eu fui talvez o prefeito que mais fez manutenções nessa cidade. Todas as casas de bomba estavam funcionando quando chegou a chuva. Eu estou fazendo a minha parte, se for reeleito estarei junto com o governo estadual, federal, porque eu sei fazer um sistema robusto para o futuro da cidade”, disse.

O atual prefeito afirmou que houve avanços na cidade nos quatro anos em que governou e chamou Rosário de “negacionista”. Ele disse que a candidata nega “que a cidade foi a que mais vacinou. Fez a vacinação, mas com equilíbrio da economia”, não mantendo a cidade fechada.

Considerações finais

Em suas considerações finais, Rosário agradeceu pela oportunidade de chegar ao segundo turno e ressaltou a questão da educação. “Quero homenagear meus colegas professores. Amanhã, Dia do Professor, da Professora. Eu pretendo ser uma prefeita que seja cuidadosa com a educação, mas principalmente que traga o ensinamento de ouvir e dizer sempre a verdade.”

Melo agradeceu os eleitores e disse ter sofrido ataques no debate. “Para mim, campanha é diálogo, é construção. Eu tenho muito orgulho de ser prefeito, ter feito transformações importantes, mas sou o primeiro a reconhecer que tem muita coisa pra fazer”.

Edição: Marcelo Ferreira