Em 2024, o Brasil resgatou 1.684 trabalhadores em condições análogas à escravidão, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Embora o número seja menor que os 3.238 resgatados em 2023, os casos registrados ao longo do ano destacaram a persistência de detecção de sepulturas em diferentes setores, incluindo eventos culturais e a construção civil. Essas operações reafirmam a necessidade de intensificar a fiscalização e responsabilizar empresas que se beneficiem de práticas ilegais e desumanas. Um dos casos mais chocantes ocorreu em dezembro, na cidade de Camaçari, Bahia, onde 163 trabalhadores chineses foram encontrados em condições degradantes enquanto trabalhavam na construção de uma fábrica da montadora chinesa BYD. Eles foram contratados pela empresa Jinjiang, que operavam como terceirizada, e enfrentavam jornadas exaustivas de até 70 horas semanais, vivendo em alojamentos insalubres com banheiros insuficientes e sem condições básicas de higiene. Além disso, as investigações revelaram que esses trabalhadores foram trazidos ao Brasil com vistos irregulares, ampliando a gravidade da situação. Em resposta, a BYD declarou estar colaborando com as autoridades e rompendo o contrato com a empresa responsável pela contratação. Outro episódio de grande repercussão ocorreu durante o Rock in Rio 2024, um dos maiores eventos culturais do país. Durante a montagem e operação do festival, 14 trabalhadores foram encontrados em condições análogas à escravidão. Eles atuavam como carregadores de equipamentos e enfrentavam jornadas de até 21 horas consecutivas, dormindo sobre papelões e sacos plásticos. As condições degradantes e a exploração revelaram falhas graves na fiscalização de empresas contratadas para atuar em grandes eventos. A organização do festival foi diretamente responsabilizada, evidenciando a necessidade de maior controle e transparência na contratação de serviços terceirizados. Os casos registrados em 2024 destacam um problema estrutural que persiste no Brasil, afetando trabalhadores de diferentes setores, como o agronegócio, a construção civil e o setor de serviços. As operações de fiscalização, realizadas em parceria com o Ministério Público do Trabalho, a Polícia Federal e outras instituições, são fundamentais para combater essas práticas, mas o problema exige soluções mais abrangentes. É essencial fortalecer as políticas públicas de prevenção, promover melhores condições de trabalho e ampliar a conscientização sobre os direitos trabalhistas. Embora o Brasil seja reconhecido internacionalmente por seus esforços no combate ao trabalho escravo, com mais de 65 mil trabalhadores resgatados desde a criação dos grupos especiais de fiscalização móvel em 1995, a realidade mostra que o desafio ainda é enorme. Casos como os da BYD e do Rock in Rio são um lembrete de que o combate à exploração deve ser constante e rigoroso, com punições exemplares para empresas que se beneficiem de condições de trabalho desumanas.