Um estudo conduzido pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB/USP) em colaboração com outras instituições, detectou a presença de chumbo no leite materno e avaliou possíveis efeitos desse processo no desenvolvimento da linguagem em bebês. O artigo científico foi publicado na revista Frontiers in Public Health em agosto deste ano.A pesquisa acende um alerta, já que aponta um elemento considerado neurotóxico na mais importante fonte de alimentação de bebês. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o leite materno seja o único alimento da dieta de crianças com até seis meses. Por meio dele, mais de 400 substâncias imunológicas são levadas ao organismo. A amamentação impacta até mesmo na inteligência desenvolvida na vida
Há décadas, estudos indicam as consequências do chumbo para a saúde. A presença do metal no corpo humano está diretamente relacionada à contaminação do ar, da água e dos alimentos. Amplamente utilizado na indústria siderúrgica e no agronegócio como componente de fertilizantes, o elemento também é emitido na fumaça dos veículos automotores e das queimadas.
O chumbo é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica do cérebro, que organiza e regula o transporte de substâncias entre a corrente sanguínea e o sistema nervoso central. O componente pode afetar os astrócitos, células que fornecem suporte e nutrição aos neurônios.
Esse processo tem potencial de comprometer o funcionamento neuronal. Ele altera, por exemplo, a liberação de neurotransmissores como acetilcolina, GABA e glutamato, cruciais para o aprendizado, o desenvolvimento muscular, a regulação de humor e a memória.
Também nesse cenário, a desigualdade exerce um peso importante no acesso à saúde. As famílias que vivem em regiões de baixa renda são comumente mais afetadas pela contaminação ambiental.
A partir das conclusões do estudo, pesquisadoras e pesquisadores podem passar a investigar como o organismo dos bebês reage para responder à contaminação por chumbo e se esses processos de proteção natural podem ser reforçados.
Edição: Martina Medina