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“Por que o Governo Investe em Cotas e Não na Igualdade Escolar de Base?”

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CentroesteNews

17/01/2025

Anna Vitória Bispo

 

A questão das cotas no Enem gera muitos debates acalorados sobre as estratégias do governo para promover igualdade no acesso à educação superior no Brasil. Uma pergunta que surge frequentemente é: por que optar por cotas se poderia investir massivamente na melhoria das escolas públicas, de modo que todos os alunos tenham uma base sólida, independentemente de sua origem? A resposta a essa questão não é nada simples e envolve aspectos históricos, estruturais e relativos.

As cotas foram criadas como uma resposta imediata às desigualdades históricas que atingem, negros, pardos, indígenas e estudantes de baixa renda. Esses grupos enfrentaram séculos de exclusão sistemática, que os afastaram de oportunidades básicas, como acesso a uma educação de qualidade. No Brasil, a educação pública, apesar de ser gratuita, ainda carrega desigualdades gritantes, muitas vezes refletindo as desigualdades socioeconômicas regionais.

Melhorar o ensino público para alcançar o nível das escolas particulares é um objetivo autentico e necessário, mas que demanda tempo, recursos e mudanças estruturais profundas. Reformas educacionais extensas precisam de décadas para gerar resultados nítidos. Além disso, elas enfrentam desafios como a infraestrutura instáveis das escolas, a formação insuficiente de professores, a baixa remuneração no setor e a falta de recursos em muitas regiões do país. Perante essa realidade, a política de cotas surge como uma ferramenta para lidar com o problema no curto prazo, garantindo que grupos historicamente desclassificado tenham acesso a universidades antes que mudanças mais profundas possam ocorrer.

Outro aspecto importante é que as cotas não só garantem maior diversidade nas universidades, mas também ajudam a corrigir o impacto de desigualdades de origem. Enquanto muitos alunos de escolas privadas têm acesso a uma educação de alta qualidade e a recursos como aulas particulares e preparação específica para o Enem, os alunos da rede pública muitas vezes enfrentam condições adversas, como a falta de professores, materiais didáticos inadequados e até mesmo dificuldades para chegar à escola.

Críticos da política de cotas muitas vezes argumentam que ela é uma solução paliativa e que o foco deveria estar exclusivamente em melhorar a educação básica. Contudo, o investimento em educação básica e a aplicação das cotas não são mutuamente excludentes. Na verdade, são políticas que se complementam. Enquanto as cotas tratam de uma desigualdade imediata no acesso ao ensino superior, os investimentos na educação pública visam resolver o problema em sua raiz, criando um sistema mais justo no futuro.

Por exemplo, se analisarmos países que passaram por mudanças educacionais estruturais, como Finlândia e Coreia do Sul, vemos que as transformações levaram décadas para serem implementadas e dependem de um compromisso político de longo prazo. No Brasil, com sua imensa desigualdade social e econômica, seria irreal esperar que a educação pública atingisse rapidamente o nível das melhores escolas particulares.

Portanto, ao adotar as cotas no Enem, o governo busca equilibrar a balança de forma emergencial, permitindo que grupos historicamente excluídos tenham acesso imediato à educação superior. Isso não significa que a melhoria do ensino público não seja uma prioridade, mas sim que são necessárias ações em várias frentes para combater a desigualdade. Enquanto não se alcança uma educação pública de alta qualidade para todos, as cotas continuam sendo uma forma de oferecer oportunidades para aqueles que mais precisam.

Fonte:
Centroeste News
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