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Guerra de narrativas Governo da Bolívia nega ataque contra carro de Evo Morales e diz que segurança do ex-presidente disparou contra policiais Apoiadores de Evo cercaram quartel responsável pela operação e incendiaram viaturas para protestar Redação Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) | 29 de outubro de 2024 às 10:17

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Morales questionou a ação do presidente Luis Arce e cobrou a demissão dos ministros envolvidos – FERNANDO CARTAGENA / AFP

O ministro de Governo da Bolívia, Eduardo del Castillo, negou nesta segunda-feira (28) que o carro do ex-presidente Evo Morales tenha sido atacado pela polícia do país. De acordo com ele, o veículo que transportava o ex-mandatário fugiu de uma operação policial que estava na estrada da cidade de Villa Tunari.

Em entrevista coletiva, o ministro disse também que os seguranças de Evo dispararam contra os policiais depois do início da perseguição. Um policial teria ficado ferido. Castillo questionou também o porque Morales teria fugido da operação policial e disse que o carro em que ele estava deveria ser entregue à policia.

“O que Evo Morales escondia em seu veículo e por que não quis ser revistado? Senhor Morales, quem lhe deu permissão para usar armas de fogo? Quem são as pessoas que estavam armadas em seu veículo? Senhor Morales, se o senhor não tem nada a esconder, pedimos que entregue esse carro à polícia e façamos uma investigação para descobrir o que existia dentro desse veículo”, disse.

Evo Morales publicou no domingo (27), em seus perfis nas redes sociais, um vídeo do momento em que o carro em que ele estava era alvo de tiros. De acordo com a denúncia de Morales, trata-se de um atentado cujos autores seriam quatro homens encapuzados e vestidos de preto. O ex-presidente disse que a perseguição aconteceu quando ele viajava de sua casa em Villa Tunari á cidade de Chimoré.

No vídeo, é possível ver marcas de tiros no vidro dianteiro do veículo. O motorista, em determinado momento, para o carro na estrada e a pessoa que está filmando desce do veículo. Ao retornarem para o carro, outro homem, com sangue na cabeça, assume a direção. O ex-presidente fala ao telefone, pedindo ajuda. “Rápido, estão disparando”, diz Morales.

Durante o pronunciamento, Castillo também questionou o que seria uma “edição” nos vídeos de Morales. Segundo ele, há inconsistências no horário que aparece em um relógio no carro de Evo. De acordo com o ministro, os vídeos foram gravados às 06h27, horário em que já teria começado a perseguição, e que Evo omitiu os disparos de sua equipe de segurança contra os policiais. Ele, no entanto, não deu detalhes sobre os horários corretos.

Ele respondeu também à denúncia de que os policiais teriam atirado contra os pneus do carro de Evo e chamou as acusações do ex-presidente como “teatro”.

“Ninguém acredita que uma pessoa possa dirigir a 170 quilômetros por hora sem os pneus, porque supostamente teria levado um tiro. Gostaria de conhecer uma pessoa no mundo que pudesse dirigir a 170 quilômetros por hora com dois pneus estourados, supostamente por ter recebido tiros”, disse.

Apoiadores de Evo cercaram o quartel responsável pela operação para pedir que os militares explicassem os ataques e pediram que fossem entregues os veículos usados na operação. Em um vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver um militar confirmando que os carros eram de policiais e entregou as caminhonetes aos manifestantes. Eles incendiaram os veículos em protesto

Morales questionou a ação do presidente Luis Arce e cobrou a demissão dos ministros envolvidos. “Se Luis Arce não deu a ordem para esta tentativa de assassinato, ele deve demitir e processar imediatamente Eduardo del Castillo e Edmundo Novillo, ministros de Governo e Defesa, junto com todos os policiais que participaram”, escreveuo ex-presidente em suas redes sociais.

Evo investigado

Morales é acusado de “estupro e tráfico de pessoas” por manter relações com uma menina de 15 anos em 2015, quando ainda era presidente e, de acordo com a denúncia, ele teria tido uma filha com a adolescente em 2016. O ex-presidente da Bolívia não compareceu para depor na Delegacia Geral de Polícia de Tarija.

O ex-mandatário ainda foi acusado pelo ministro da Justiça, César Siles, de criar uma rede de jovens de 14 a 15 anos para ter a sua disposição enquanto era presidente. O ministro disse que esse grupo seria chamado de “Geração Evo”. Os pais da jovem também estariam sendo investigados porque supostamente receberam dinheiro ao entregá-la ao ex-presidente em troca de favores.

De acordo com a lei boliviana, caso ele não se apresentasse para depor, a Justiça poderia determinar uma ordem de captura para que Morales deponha. César Siles reforçou que Evo estaria sujeito à prisão caso não comparecesse.

O objetivo da defesa do ex-presidente é transferir o julgamento para Cochabamba, cidade onde vive Evo Morales, usando um artigo do Código de Processo Penal que faz referência ao “juízo natural”, ou seja, o direito de ser processado na jurisdição em que vive. Para o advogado Jorge Pérez, o processo “nasceu morto” por ter sido encerrado em 2020.

Evo Morales criticou a investigação, dizendo que as acusações são “inventadas” e têm como objetivo forçar um processo criminal.

Disputa com Luis Arce

Evo chamou de traição a relação com o atual presidente Luis Arce. O ex-presidente se tornou o principal opositor do atual governo depois de voltar do exílio na Argentina. Morales começou a criticar algumas decisões de Arce e seus apoiadores e começou a disputar espaço pela candidatura do Movimento Al Socialismo (MAS) nas eleições presidenciais de 2025.

O estopim da desavença, na corrida pela liderança do MAS, se deu em outubro de 2023, quando Morales organizou um congresso em Lauca Eñe, no distrito de Cochabamba. A região é berço político e reduto eleitoral do ex-presidente. No evento, ele chamou os apoiadores de Luis Arce de “traidores”.

O Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia decretou em dezembro de 2023 que presidentes e vice-presidentes só poderiam exercer o cargo por dois mandatos, de forma seguida ou não. Com a sentença judicial, Evo Morales, que foi presidente por quatro mandatos, não poderia voltar ao poder.

No entanto, um novo Tribunal Constitucional será eleito em dezembro. Os apoiadores de Evo consideram que, com novos juízes, essa norma poderia cair e Evo poderia voltar a ser candidato em 2025.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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